ARTIGO ESPECIAL – COLETIVO FONTE DAS ARTES: UM GRANDE PRESENTE PARA CAXAMBU

Administração - Sexta-feira, 23 de Julho de 2021


ARTIGO ESPECIAL – COLETIVO FONTE DAS ARTES: UM GRANDE PRESENTE PARA CAXAMBU O caxambuense Caio Luiz Carvalho Penha, é autor do artigo publicado a seguir. Ele discorre sobre a importância e a representatividade do Coletivo Fonte das Artes, uma iniciativa da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura.  Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e em História pela Universidade de Franca (UNIFRAN), tem experiência como professor servidor do Estado de Minas Gerais e como guia de turismo regional no Circuito das Águas de Minas, com certificação do Ministério do Turismo. ————————————————————————————— Encantado com o Fonte das Artes pergunto-me o que ele representa para nossa cidade. Em primeiro lugar, vejo representa a queda de uma visão rasa que afirmava: “Caxambu não tem artesanato, artesanato é Baependi”. De certa forma é compreensível que antes da organização do Coletivo Fonte das Artes muitos caxambuenses e visitantes compartilhassem desta visão já que o artesanato local estava disperso, os artesãos não tinham uma “casa comum” que servisse de vitrine para suas obras e que proporcionasse encontros e conexões entre eles. Além disso, o coletivo deu aos artesãos a chance de saber como as pessoas se encantam e são atravessadas por emoções ao conhecerem e adquirirem as obras únicas que eles expõem no Centro de Apoio ao Turista. Penso que a carga de significado presente no nome do Coletivo já é extremamente representativa.  Se Caxambu é uma cidade inspiradora, se conta com muitas fontes de águas saborosas e curativas, por outro lado, ainda é carente de fontes de arte e cultura. Sim, existem políticas públicas voltadas para a memória, para o patrimônio, para música e para artesanato que representam um grande avanço para popularização e defesa da arte e da cultura no município, porém, ainda é preciso avançar em outras frentes com a dança, a pintura, a fotografia, artes manuais, etc. O Coletivo Fonte das Artes com o apoio da prefeitura parece ter percebido esta carência e conseguiu entregar para comunidade e visitantes mais uma fonte, não de água mineral, que cura e mata a sede, e sim uma fonte que mata a sede de arte e ao mesmo tempo cura a visão distorcida de que não há artesanato em Caxambu. Lembro-me do verso: “Você tem sede de quê?” Eu sei que o caxambuense tem sede de arte, sobretudo, da visibilidade da arte que ele mesmo fabrica ou da arte que lhe permite ver o reflexo de si mesmo. O artesanato do Fonte das Artes proporciona isso. Aos artesãos uma chance de posicionar o seu trabalho como um objeto de valor artístico, cultural e comercial, aos moradores entrega obras capazes de matar um bocado da sede de se sentir, de se saber e se ver como caxambuense, mineiro, brasileiro e aos turistas oferece um conjunto riquíssimo de obras que expressam a identidade da cidade. Penso também que o Centro de Apoio ao Turista de Caxambu, de certa maneira, passa a ocupar o lugar que a feira de Pedra Sabão ocupa em Ouro Preto. Todos que conhecem nossa antiga capital mineira sabem que a feira é um espaço em que se pode encontrar grande parte das obras dos artesãos ouro-pretanos; em Caxambu, do mesmo modo, o turista encontra neste Centro de Apoio obras de mais de cem artesãos locais integrantes do Coletivo Fonte das Artes.  Ali está o lócus por excelência do artesanato de Caxambu. Para mim fica claro que o Coletivo transformou o espaço do Centro de Apoio ao Turista em um atrativo e tanto. Um lugar para se informar sobre a cidade e mergulhar na arte dos seus moradores. Também acredito que a iniciativa do Coletivo Fontes das Artes dá um grande presente para Caxambu. É como se a cidade perguntasse a cada um dos artesãos: quem sou eu? E os artesãos olhassem para ela, olhassem para si mesmos, e, voltados para sua arte respondessem: você é uma cidade vocacionada a encantar as pessoas, venha, contemple a beleza das obras que estão reunidas aqui, grande parte delas foi inspirada em você. Veja, cada uma tem uma história. É o belo bordado ensinado à artesã pela mãe que aprendeu com a vó em Caxambu,  é a pintura e a fotografia que retratam a beleza das paisagens do parque, a boneca que lembra a mulher brasileira, a mulher do interior, a boneca de pano que encanta as crianças que brincam a sombra do morro. E carro de boi? Que recordação! Quantos caxambuenses carreiros traziam lenha e comida para a cidade, quantas crianças pulavam na traseira do carro a cantar, enquanto ele pegava o rumo da roça. E a cidade escuta… E segue curiosa perguntando: o que mais as obras do Fonte das Artes revelam sobre mim? E os artesãos respondem: muitas obras revelam a fé e a religiosidade da gente de Caxambu, imitam as flores que enfeitam seus jardins, os pássaros que ornam suas árvores, as folhas verdes que embelezam seus verões e que transformadas pelo tempo cobrem o chão nos dias frios. Tem também as obras voltadas para a decoração, para o cuidado da casa, o aconchego da criança, da pessoa querida, todas elas expressam a sua vocação enquanto cidade, ou seja, encantar e cuidar das pessoas, como você sempre cuidou dos seus e dos turistas, presenteando a todos com suas águas curativas e com o afeto da nossa gente acolhedora. O presente que o Fonte das Artes oferece para Caxambu é uma oportunidade diária da cidade se olhar no espelho e saber que a arte imita a realidade, carrega memória, história. E aqui certa responsabilidade também recai sobre o poder público que deve abrir caminhos para que os artesãos possam se encontrar e mergulhar na história da cidade buscando sempre se aprofundar na sua identidade, ou seja, o que é ser, estar, viver aqui, pois, esse “sentimento do mundo” inevitavelmente será impresso na arte que eles fabricam e ajudará o caxambuense e o visitante a responderem: afinal, o que é Caxambu? No arquivo da prefeitura é possível verificar documentos que atestam o enorme acervo que já existiu no museu do município. Os objetos do museu de outrora se distinguiam por oferecerem ao caxambuense e ao turista as impressões, sensações e informações necessárias para responderem a pergunta acima. Lamentavelmente, por absoluta falta de consciência da sua importância histórica, cultural e artística nossa comunidade deixou o acervo se perder. Penso que o abandono do museu é um dos responsáveis pela desconexão de alguns caxambuenses com a cidade. É uma minoria? Sim, porém não deve ser invisibilizada, pois, trata-se de uma minoria que não se orgulha de ter nascido aqui e que é incapaz de responder o que é Caxambu justamente porque não se sente pertencente à comunidade, não se sente tocada pela história, pela cultura, pela arte, não é partícipe do que a cidade tem de melhor. Em conversas com caxambuenses de mais idade é possível descobrir muitos patrimônios materiais que foram derrubados ou imateriais que foram abandonados e esquecidos no passado porque as pessoas não se deram conta de que eles eram parte da alma da cidade e com o fim deles veio também o fim de um pedaço da identidade de Caxambu. Para mim, o coletivo é uma iniciativa que vai na contramão desses erros cujas consequências ainda são sentidas pela comunidade e pelo poder público. É transparente como as águas do parque que o Coletivo é uma potência caxambuense que comunica a identidade da cidade, uma fonte inesgotável de beleza, criatividade e de exemplo de organização popular. O Fonte das Artes mostrou para Caxambu que quando o poder público está comprometido com a arte e os indivíduos – no caso, os artesãos – organizados é possível realizar grandes feitos e começar a corrigir erros históricos. Ontem e hoje a minha sensação ao entrar em contato com as obras dos artesãos locais permanece a mesma. É como se eu estivesse sendo envolvido por um álbum de fotografias, recheado de referências, detalhes e identidades que revelam boas e belas histórias da gente que nasceu ou escolheu viver aqui. Contemplar as obras do Fonte das Artes é se conectar com a alma da cidade e ter a chance de levar um pedacinho dela para casa, além de me preparar melhor para responder à pergunta: afinal, o que é Caxambu? Artigo redigido por: Caio Luiz Carvalho Penha

Prefeitura Municipal


Caxambu